quinta-feira, 11 de novembro de 2010

DUAS BOLAS, POR FAVOR - por Danuza Leão




Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa,contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido.

Uma só.

Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa.

Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.



O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.

A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade.

A gente sai pra jantar, mas come pouco.

Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.

conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').



Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta./



Tem vontade de ficar em casa vendo um dvd, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar./



E por aí vai.



Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...

Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...



Às vezes dá vontade de fazer tudo “errado”.

Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.

Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito.

Recusar prazeres incompletos e meias porções.



Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.



Um dia a gente cria juízo.

Um dia...

Não tem que ser agora.



Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate...

Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago.

3 comentários:

  1. Oi Maite,

    Ótimo texto! É bem assim mesmo, nos limitando, nos excedendo, e depois contabilizando o prejuízo...mas o que mais importa é sermos felizes.

    Beijos.

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  2. Li faz pouco tempo essa mesma mensagem na Ana Maria(site).
    E tenho que te dizer:concordo com ele do começo ao fim!
    Foi ótimo reler!
    Um beijo!
    Afrodite

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  3. Hum, sorvete é um dos únicos doces que eu ainda como, mas de flocos. Estes meses atrás, comi um pote de meio quilo quase que sozinha.... hehehe. Muito bom, de vez em quando essas coisas são ótimas de se fazer...
    Bjs

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